Ansiedade e excesso de controle: sob a ótica da psicanálise
- Cris Laurentino
- 23 de nov.
- 3 min de leitura

Vivemos em uma época em que controlar parece sinônimo de sobreviver. Controlar a rotina, o trabalho, o corpo, as emoções — e até o que sentimos nas redes sociais. Mas, sob o olhar da psicanálise, esse desejo de controle absoluto costuma esconder algo mais profundo: o medo da perda, da imprevisibilidade e do desconhecido que habita em cada um de nós.
A ilusão do controle e o medo da perda
O sujeito moderno é constantemente convocado a “dar conta de tudo”. Trabalhar bem, manter relacionamentos, cuidar da saúde, estar presente, ser produtivo e ainda mostrar tudo isso de forma impecável. Essa busca incessante pelo domínio da própria vida, porém, gera uma tensão constante — e, muitas vezes, uma ansiedade silenciosa.
A psicanálise nos ensina que o desejo de controlar não é apenas racional.Ele está ligado a fantasias inconscientes de perda, abandono e impotência. Quando algo foge ao nosso controle, não é apenas o presente que se abala — são lembranças e sentimentos antigos, muitas vezes reprimidos, que voltam a emergir. Por isso, quanto mais tentamos dominar tudo, mais nos afastamos da possibilidade de lidar com o imprevisto e de aceitar que a vida, como o inconsciente, é feita também de mistérios.
O mundo moderno e o culto à produtividade
As redes sociais intensificaram ainda mais essa dinâmica. Elas reforçam a ideia de que o valor do sujeito está em mostrar desempenho, sucesso e estabilidade emocional. Mas, por trás das fotos e das rotinas “perfeitas”, há, frequentemente, uma tentativa de controlar a imagem de si — como se isso pudesse conter o mal-estar, o vazio, a angústia.
A psicanálise nos convida a olhar para essa necessidade de performance como um sintoma da contemporaneidade. A ansiedade nasce justamente no ponto em que o controle se torna impossível. E é nesse ponto que o sujeito entra em contato com o que há de mais humano: sua vulnerabilidade.
Controle como defesa contra o desconhecido
Em muitos casos, o excesso de controle é uma defesa psíquica. Quando não conseguimos tolerar o imprevisto, buscamos organizar o mundo à nossa maneira — com listas, horários, vigilância e expectativas rígidas. Mas, paradoxalmente, quanto mais tentamos controlar, mais inseguros nos tornamos.
A psicanálise entende esse movimento como uma tentativa de conter o que o inconsciente insiste em revelar. O medo de perder o controle é, no fundo, o medo de entrar em contato com o próprio desejo — aquilo que não se deixa dominar, prever ou planejar.
Ansiedade, desejo e a impossibilidade de total controle
A ansiedade surge quando o sujeito se vê dividido entre o desejo e a necessidade de segurança. Desejar é arriscar-se — e o risco sempre traz a possibilidade de perder algo. Por isso, a tentativa de controlar tudo é também uma forma de se proteger do próprio desejo, que pode parecer perigoso ou inaceitável.
Na análise, o trabalho é justamente dar lugar àquilo que escapa, acolher o que surge sem julgamento e descobrir o que há por trás do sintoma. Quando o sujeito se permite falar livremente, a fala se torna o caminho pelo qual o inconsciente se expressa, e o controle rígido começa a ceder espaço à elaboração.
Psicanálise, psicologia e o valor de se escutar
Tanto na psicanálise quanto na psicologia clínica, o processo terapêutico é uma forma de reconectar-se com o próprio ritmo, com o tempo interno, muitas vezes sufocado pela pressa do mundo exterior. No espaço da análise, não é necessário controlar o que se diz — é justamente quando o sujeito se permite falar sem censura que algo novo pode surgir.
Mesmo em um atendimento com psicólogo online, esse espaço de escuta se mantém: um tempo protegido, onde a palavra pode fluir e o silêncio pode significar. É nesse ambiente que se torna possível reconhecer os mecanismos de controle, compreender sua origem e abrir-se ao imprevisível da vida.
Aceitar o que não se controla é libertar-se
Aceitar que não temos controle sobre tudo não é sinal de fraqueza, mas de maturidade psíquica. Significa confiar que podemos lidar com as incertezas sem precisar antecipar ou corrigir o futuro o tempo todo. A análise oferece esse espaço de transformação — um lugar onde o sujeito pode abrir mão do controle e encontrar, no imprevisto, o verdadeiro movimento da vida.
🌿 Talvez o que mais assuste não seja perder o controle, mas descobrir o que realmente desejamos quando ele cessa.
Se você sente que o excesso de controle tem gerado ansiedade, talvez seja o momento de se escutar com mais profundidade. Agende uma sessão e permita-se viver com mais leveza e autenticidade.
Cris Laurentino, MSc.
Psicanalista Clínica
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