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Repetição nas Relações Amorosas: Por Que Escolhemos os Mesmos Tipos de Pessoas?

  • Foto do escritor: Cris Laurentino
    Cris Laurentino
  • há 4 horas
  • 4 min de leitura
Psicanalista Cris Laurentino
A análise nos convida à compreensão dessas repetições.

Por que tantas vezes nos vemos envolvidos com pessoas muito parecidas, vivendo situações que já conhecemos, sofrendo por histórias que parecem versões novas de algo antigo? Essa sensação de repetição nas relações amorosas é muito comum. É frequente alguém dizer que sempre se apaixona por quem não se envolve, ou que atrai parceiros controladores, ou ainda que volta a ocupar a posição de quem cuida de todos na família, mesmo tentando evitar isso. A sensação pode ser de círculo vicioso, mas pela psicanálise entendemos que não se trata apenas de azar nem de falta de sorte no amor. A repetição é um movimento psíquico profundo, que opera muitas vezes sem que percebamos, guiando desejos, escolhas e formas de se relacionar.


Este texto te convida a explorar o que está por trás dessas escolhas que parecem tão espontâneas, mas que carregam marcas emocionais antigas.


O que a psicanálise entende por repetição?

A repetição, na visão psicanalítica, não é apenas fazer algo igual ao passado. É tentar reviver uma situação emocional não elaborada, na esperança inconsciente de dar a ela um novo destino. Freud chamou isso de compulsão à repetição: um movimento do sujeito que, sem perceber, se coloca novamente em cenas familiares, mesmo que dolorosas.

A repetição está ligada a dois elementos importantes: o desejo e o conflito emocional que permanece aberto, ou seja, repetimos porque há algo ali que não conseguimos simbolizar totalmente. Assim, a repetição seria uma tentativa do psiquismo de lidar com esse ponto ainda em suspensão.


A repetição nas relações amorosas

As relações amorosas são um campo privilegiado para observarmos nossos padrões. Não apenas porque envolvem afeto e vulnerabilidade, mas porque mexem com experiências muito precoces de vínculo.

É muito frequente que alguém diga: “Sempre me envolvo com pessoas indisponíveis”; “Se eu me afasto, a pessoa se aproxima. Se eu me aproximo, ela foge”; “Acabo sempre ocupando o papel de cuidadora”; “Parece que escolho parceiros iguais ao meu pai ou à minha mãe.”

Embora cada história seja única, há algo que se repete na estrutura dessas escolhas. Isso acontece porque procuramos, de forma inconsciente, relações que ressoem com nossos primeiros modelos de amor, mesmo quando foram difíceis ou insuficientes.

Esses modelos são como molduras: ajudam a definir o que reconhecemos como familiar, confortável ou “certo”, ainda que não seja saudável. O sujeito, então, se aproxima de quem ativa esses padrões, não para sofrer novamente, mas porque ali há algo que o inconsciente tenta compreender, reparar ou transformar.


Por que buscamos aquilo que nos machuca?

Essa é uma dúvida comum. Se repetimos algo doloroso, por que não escolhemos algo oposto?

A resposta está na lógica afetiva interior. O inconsciente não diferencia “bom” e “ruim” da forma que o pensamento racional faz. Ele opera pelo que é familiar. E o familiar, mesmo sendo difícil, pode soar mais seguro do que o desconhecido.

Além disso, a repetição é uma tentativa de encontrar um desfecho diferente. É como se o sujeito dissesse a si mesmo, sem perceber: “Desta vez, vai ser diferente.”; “Agora eu vou conseguir ser amado.”; “Desta vez, alguém vai ficar.” É uma esperança antiga que segue buscando solução.


Repetição nas relações familiares

As relações familiares são o palco original das nossas experiências emocionais. Por isso, o padrão repetitivo costuma nascer ali.

Alguns exemplos comuns:

• O adulto que sempre se coloca no papel de responsável, porque ocupava esse lugar na infância.

• Quem busca aprovação constante, repetindo a sensação de ter sido pouco reconhecido.

• Quem não se permite errar, ecoando um ambiente rígido que exigia perfeição.

• Quem tolera excessos dos outros para evitar conflitos que, no passado, eram assustadores.

É como se certos papéis continuassem atuando dentro de nós, mesmo que a cena externa tenha mudado.


A repetição não é culpa. É história.

Em psicanálise, não falamos em culpa, mas em história psíquica. A repetição não aparece porque o sujeito quer sofrer. Ela ocorre porque existe um trecho da experiência emocional que ainda não foi significado de fato. A repetição é um convite a olhar para o que ainda não pôde ser dito.


Qual é o papel da análise nisso tudo?

A psicanálise não tenta impedir a repetição de forma imediata. Ela busca algo mais profundo. Ao falar livremente e escutar a si mesmo, aos poucos o sujeito começa a perceber o que está por trás de suas escolhas; De onde vem certa forma de amar ou de se relacionar; Quais sentimentos tenta evitar ou reparar, e; Quais vínculos ele recria sem perceber.

O trabalho analítico permite transformar repetição em elaboração. Ou seja, aquilo que antes se repetia automaticamente pode, ao ganhar consciência, abrir espaço para escolhas novas, mais livres e menos determinadas pelo passado.


E quando percebemos o padrão?

Reconhecer um padrão é o primeiro passo para sair dele. Mas na psicanálise, perceber não basta. O que realmente transforma é elaborar o sentido do que se repete.

A repetição não se desfaz por força de vontade. Ela se dissolve quando aquilo que ela tentava resolver de forma cega pode finalmente ser nomeado, entendido e incorporado à história subjetiva. Esse processo não é rápido, mas é libertador.


Por que este tema fala tanto com a vida atual?

Vivemos tempos de alta exposição emocional, relações rápidas, medos de abandono intensificados pelas redes sociais e uma constante comparação com a vida dos outros. Isso tudo amplia nossas inquietações e nossos padrões. Muita gente sente que está presa a histórias que se repetem. Por isso, compreender a repetição pela psicanálise pode ser profundamente esclarecedor e acolhedor.


Conclusão: repetimos até podermos fazer diferente

A repetição não é um erro. É um caminho. Ela nos leva de volta ao que precisa ser elaborado. É por isso que, na análise, cada palavra, cada silêncio e cada vínculo criado com o analista possibilitam algo novo.

Quando o sujeito finalmente se escuta, a repetição deixa de comandar e começa a se transformar.


E aí? Você também percebe que situações se repetem nas suas relações amorosas, familiares ou profissionais? Talvez seja o momento de olhar para isso com mais cuidado e acolhimento.


Se quiser conversar sobre seu processo, estou à disposição para agendarmos uma sessão. Você será sempre bem-vindo(a). ;)



Cris Laurentino, MSc.

Psicanalista Clínica


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